Especialistas alertam: a demanda global por terras raras deve acelerar, mas o investimento é de longo prazo e não indicado para quem busca retorno rápido. No Brasil, as incertezas são ainda maiores.
As terras raras, grupo de 17 elementos químicos essenciais para motores elétricos, televisores, ímãs e tecnologias de ponta, permanecem no centro das discussões internacionais. O interesse recente se deve ao fato de o Brasil ser o segundo maior produtor mundial, atrás apenas da China.
Essa posição estratégica poderia servir como vantagem diplomática em negociações sobre tarifas e acordos comerciais, considerando a dependência de economias como a dos Estados Unidos desses minerais. Independentemente do sucesso diplomático, o setor está em expansão no mercado global.

Segundo a International Energy Agency (IEA), compilado pelo UBS, a demanda global deve saltar das atuais 91 mil toneladas para 150 mil toneladas até 2024, um crescimento de 60%. Surge, então, a questão: vale a pena o investidor pessoa física se expor a esse segmento? Quais os riscos e alternativas de acesso?
Riscos e horizonte de retorno prolongado

Especialistas enfatizam que investir em empresas de mineração de terras raras não é indicado para aqueles que buscam liquidez ou retorno rápido. No Brasil, os desafios são ainda mais complexos.
“O primeiro risco é técnico-geológico. Inicialmente, o subsolo é desconhecido, gerando alta incerteza. É essencial investir em estudos geológicos robustos para mapear adequadamente as reservas”, explica Jéferson Silveira Martins, sócio-diretor da Silveira Capital, especializada em M&A e desenvolvimento de negócios de mineração.
Após a etapa de prospecção, a empresa precisa captar recursos para a construção da planta industrial, um processo demorado. Adicionalmente, os trâmites ambientais no Brasil são complexos e muitas vezes imprevisíveis, podendo atrasar ou até impedir a obtenção das licenças necessárias.
“Investir exige capital significativo sem previsibilidade de retorno imediato. Esse é um dos motivos pelos quais há poucos projetos ativos no país”, acrescenta Silveira.
De acordo com estimativas do UBS, um projeto pode levar até 16 anos para se tornar operacional.
Panorama dos projetos brasileiros
Atualmente, existem 30 projetos de terras raras em desenvolvimento no Brasil, localizados em Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Piauí e Tocantins, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM).
A única operação comercial em atividade é a Serra Verde, em Minaçu (GO), inaugurada em 2024 após 14 anos de preparação e investimento de US$ 150 milhões oriundos de fundos americanos e britânicos. O depósito é de argila iônica com capacidade inicial estimada em 5 mil toneladas por ano. Os principais elementos extraídos são neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy), fundamentais para a produção de ímãs permanentes.
Desafios tecnológicos e de mercado
Segundo o UBS, o Brasil ainda não explora plenamente suas reservas, devido ao elevado custo de extração e separação, obrigando o país a importar insumos para sua indústria. Entre os principais desafios, destacam-se:
- Criação de um marco regulatório claro;
- Agilidade nos processos de licenciamento ambiental;
- Avanços no mapeamento geológico das reservas;
- Volatilidade e instabilidade do mercado internacional.
Formas de investimento
Investidores podem acessar o setor por meio de:
- Empresas estrangeiras, principalmente australianas, com operações no Brasil;
- ETFs (fundos de índice) que oferecem exposição a múltiplas companhias de terras raras, mitigando risco específico de empresa.
Algumas companhias australianas com projetos no Brasil incluem: Viridis Mining (VMM), Meteoric Resources (MEI), ST George Mining (SGQ), Equinox Resources (EQN), Summit Minerals (SUM), Resouro Strategic Metal (RSM), Perpetual Resources (PEC), Ozaurum Resources (PEC), Axel REE (AXL) e Alvo Minerals (ALV), todas listadas na bolsa australiana.
“Muitas empresas optam por abrir capital na Austrália ou no Canadá, países com maior flexibilidade para financiar projetos em estágio inicial. Esse modelo é comum tanto no Brasil quanto no exterior”, comenta Silveira Martins.
Critérios para análise antes de investir
Para o professor Marcos Piellusch, da FIA Business School, o investidor deve priorizar sinais concretos de progresso no projeto:
- Publicação de recursos e estudos técnicos;
- Testes metalúrgicos ou pilotos;
- Licenças ambientais concedidas;
- Acordos comerciais vinculantes;
- Aprovação de financiamento;
- Execução física em andamento.
Além disso, verificar o histórico dos executivos é fundamental: experiência anterior bem-sucedida em projetos similares reduz riscos operacionais.
Investimento internacional
No exterior, empresas como a China Northern Rare Earth Group High-Tech (600111, Xangai), a americana MP Materials (BDR M2PM34, B3) e a australiana Lynas Rare Earths (LYC) são referências. ETFs como VanEck Rare Earth/Strategic Metals (REMX) e Sprott Critical Materials/Energy Transition Materials (SETM) permitem diversificação sem exposição direta a papéis individuais.
Alocação recomendada
Segundo Piellusch, a exposição a terras raras pode ser adequada para quem busca diversificação temática:
- Perfis moderados: 2% a 5% do portfólio;
- Perfis arrojados: até 10%, desde que compreendam a volatilidade e o risco de execução.
“A alocação ideal depende de objetivos, horizonte e tolerância a perdas. Terras raras é um setor cíclico, correlacionado com crescimento global e indústria de tecnologia”, conclui.