Enquanto impõe tarifas recordes aos países do bloco, presidente dos EUA conquista concessões da Indonésia e amplia sua ofensiva comercial com viés geopolítico
Em 7 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 32% sobre produtos da Indonésia — movimento que integrava sua estratégia mais ampla de sanções comerciais contra os países do BRICS. No entanto, nesta terça-feira (22), Jacarta tornou-se a primeira nação do bloco a ceder às pressões norte-americanas, firmando um acordo bilateral que evita a tarifa e concede amplo acesso ao mercado local para produtos dos EUA.
Pelos termos do acordo, as exportações americanas passam a ingressar na Indonésia com tarifa zero, enquanto as exportações indonésias para os Estados Unidos serão submetidas a uma alíquota de 19%. A decisão contrasta com a postura mais resistente de Brasil, China e Rússia — todos ainda sob forte pressão tarifária.
Trump celebra vitória estratégica e reforça liderança comercial
Pela rede Truth Social, Trump saudou o acordo como um marco de sua política comercial e elogiou a disposição do presidente indonésio, Prabowo Subianto, em cooperar:
“É uma grande honra anunciar nosso acordo comercial com a República da Indonésia, representada por seu altamente respeitado presidente, Prabowo Subianto.”
Segundo Trump, o pacto elimina 99% das barreiras tarifárias indonésias e abre o mercado do país asiático a uma ampla gama de produtos norte-americanos — incluindo bens industriais, tecnológicos e agrícolas.
“Os Estados Unidos agora venderão seus produtos para a Indonésia com tarifa zero, enquanto a Indonésia pagará 19% sobre todos os produtos que enviar aos EUA”, afirmou o presidente.
O acordo também inclui cláusulas estratégicas: a Indonésia se compromete a fornecer minerais considerados críticos para a indústria norte-americana e a assinar contratos bilionários para aquisição de aeronaves Boeing, commodities agrícolas e energia dos EUA.
“Trata-se de uma grande vitória para nossas montadoras, empresas de tecnologia, agricultores, pecuaristas e trabalhadores”, concluiu.
Ofensiva tarifária atinge 24 países; Brasil é o mais penalizado
O acordo com a Indonésia surge em meio a uma ofensiva comercial em larga escala conduzida por Trump nas últimas semanas. Desde o início de julho, o governo norte-americano notificou 24 países sobre a imposição de tarifas unilaterais, incluindo membros da União Europeia e o México.
Entre os países do BRICS, o Brasil foi o mais atingido. Apenas um dia após o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do bloco, realizada no Rio de Janeiro em 9 de julho, os EUA impuseram uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
Moscou, por sua vez, foi ameaçada com uma tarifa de até 100%, enquanto Pequim — inicialmente alvo de uma alíquota de 140% — conseguiu reduzi-la para 30% após rodadas de negociação.
Todas as tarifas entram em vigor em 1º de agosto
As medidas anunciadas por Trump entram em vigor no próximo dia 1º de agosto. Ao adotar uma estratégia de confrontação seletiva, o governo norte-americano tem buscado isolar seus principais adversários comerciais enquanto premia, com acordos bilaterais, os países dispostos a concessões — como a Indonésia demonstrou.
Para o Brasil, o episódio representa um dilema diplomático: manter a coesão no bloco BRICS ou buscar uma reaproximação pragmática com os EUA.
Como os demais países do BRICS responderão à ofensiva tarifária de Trump? A Indonésia já escolheu seu caminho — e o Brasil pode estar diante de uma decisão estratégica.
