Com juros ainda elevados e maior aversão ao risco, o ano de 2025 se desenha como um terreno fértil para investidores que buscam previsibilidade e retornos reais atrativos na renda fixa. Mas, para capturar o melhor desse cenário, será necessário ir além da cautela e adotar uma postura estratégica.
O ambiente macroeconômico no início de 2025 favorece a alocação em títulos de renda fixa, especialmente os públicos, que continuam oferecendo juros reais elevados. No segmento de crédito privado, o prêmio em relação ao Tesouro Direto vem aumentando gradualmente, à medida que os spreads — que se alargaram no fim de 2024 — passam por um movimento técnico de correção.
Flexibilidade e visão de longo prazo: os diferenciais do investidor em 2025
Para Sharon Halpern, sócia da Blackbird Investimentos, dois atributos serão fundamentais para navegar este ciclo com consistência: flexibilidade e visão estratégica de longo prazo.
“A capacidade de ajustar rapidamente o portfólio frente a mudanças no cenário macroeconômico será decisiva, assim como a leitura de horizontes maiores, que permite capturar prêmios mais robustos”, afirma Halpern.
Especialistas ouvidos pelo InfoMoney reforçam que a rentabilidade dos títulos pode perder força no segundo semestre. Hoje, papéis indexados ao IPCA oferecem taxas superiores a 7,50% ao ano — patamar difícil de ser mantido.
“Se for possível, posicione-se agora. As boas oportunidades tendem a diminuir ao longo do ano, principalmente para investidores conservadores”, recomenda Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP.
Crédito privado: análise criteriosa é indispensável
No campo do crédito privado — que abrange debêntures, CRIs e CRAs — a seletividade será ainda mais importante em 2025. A gerente institucional da Bloxs, Sophia Annicchino, sugere atenção redobrada aos fundamentos das empresas emissoras:
“Mesmo em setores pressionados pela Selic elevada, é possível identificar empresas que se destacam frente aos seus pares. O olhar para os balanços é essencial.”
A compressão de spreads não eliminou as oportunidades. Muitas emissoras vêm oferecendo contrapartidas importantes, como garantias adicionais, amortização concentrada no vencimento e cláusulas de proteção contra risco.
Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, alerta: com o juro alto pressionando o custo da dívida, empresas mais alavancadas exigem análise aprofundada.
“É necessário avaliar cada setor e emissor com cuidado. Há diferentes níveis de qualidade mesmo dentro do mesmo segmento”, pontua.
“É necessário avaliar cada setor e emissor com cuidado. Há diferentes níveis de qualidade mesmo dentro do mesmo segmento”, pontua.
Títulos mais promissores: inflação, pós-fixados e prefixados
Entre os ativos mais indicados para este ano, os títulos indexados à inflação seguem em evidência. O banco Inter destaca os papéis com vencimento em 2045 como uma excelente oportunidade de longo prazo. Apesar da volatilidade de curto prazo provocada pela marcação a mercado, a remuneração real próxima de 7% é vista como altamente competitiva.
Já os pós-fixados — como Tesouro Selic e CDBs atrelados ao CDI — mantêm sua atratividade. Segundo Patzlaff, títulos que pagam 120% do CDI, com vencimentos entre um e dois anos, oferecem uma excelente relação entre risco e retorno.
Sharon Halpern faz um alerta: CDBs que remuneram abaixo de 100% do CDI não são interessantes no cenário atual, considerando que o Tesouro Selic, com menor risco, já entrega esse rendimento. Em casos de instituições menores, ela recomenda respeitar o limite de R$ 250 mil por emissor, coberto pelo FGC.
E os prefixados? Espaço limitado, mas estratégico
Com taxas elevadas, os títulos prefixados também têm espaço nas carteiras, embora de forma moderada. O Inter recomenda alocações pontuais, com no máximo 5% da carteira, priorizando vencimentos mais curtos — entre 12 e 18 meses — onde as taxas estão mais atrativas.
FIDCs ganham tração entre investidores qualificados
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), direcionados a investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão em aplicações), também devem ganhar destaque em 2025.
Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, sugere atenção aos fundos com baixo risco de crédito e subordinação mínima de 20%. Com a expectativa de que a Selic ultrapasse os 14,25% no ano, o retorno dessa classe pode ultrapassar 16%.
Conclusão: oportunidade exige sofisticação na escolha
A renda fixa em 2025 promete entregar retorno expressivo — mas não de forma automática. Como resume Camilla Dolle, da XP:
“É um ano de boas oportunidades, mas que exige seletividade e cautela, além de flexibilidade e visão de longo prazo.”