Diagnósticos tardios e ausência de rastreamento estruturado comprometem o controle da doença no Brasil
A mortalidade por câncer colorretal no Brasil deve apresentar um crescimento preocupante de 36,3% nos próximos 15 anos. A projeção consta no 9º volume do Boletim Info.oncollect, publicado pela Fundação do Câncer nesta terça-feira (5), data em que se celebra o Dia Nacional da Saúde.

Avanço da mortalidade afeta ambos os sexos

Segundo o estudo, o aumento das mortes será significativo tanto entre os homens quanto entre as mulheres. A expectativa é de um crescimento de 35% entre pacientes do sexo masculino e de 37,63% entre as mulheres. A Região Sudeste, além de registrar a maior quantidade absoluta de óbitos, deve apresentar uma alta de 34%.
Para Alfredo Scaff, coordenador da pesquisa, os dados revelam um cenário alarmante: a maioria dos diagnósticos ocorre em estágios avançados da doença, quando as possibilidades de cura são bastante limitadas.
“Em nosso levantamento, 78% dos pacientes que vieram a óbito foram diagnosticados já nos estágios III ou IV”, destaca Scaff. “Nessas fases, as chances de sucesso terapêutico são drasticamente reduzidas.”
Sintomas iniciais e sinais de alerta
A evolução do câncer colorretal costuma ser lenta, iniciando-se muitas vezes a partir de lesões discretas que, ao longo dos anos, podem evoluir para tumores malignos. Apesar disso, a detecção precoce ainda é uma exceção.
Entre os principais sinais clínicos que merecem atenção estão:
- presença de sangue nas fezes;
- alterações persistentes no hábito intestinal, como fezes em fita ou episódios frequentes de diarreia;
- dor abdominal crônica;
- perda de peso sem causa aparente.
Terceiro tipo mais incidente no país
De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2023–2025, os cânceres de cólon e reto, que afetam o intestino, configuram-se como o terceiro tipo mais frequente no Brasil, com aproximadamente 45 mil novos casos diagnosticados anualmente.
Falta de políticas públicas agrava o quadro
O estudo também aponta para uma lacuna crítica na estratégia de saúde pública: a inexistência de um programa nacional estruturado de rastreamento do câncer colorretal. Embora o diagnóstico possa ser realizado por meio de exames simples, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, a adesão a práticas preventivas é baixa.
“Em países que adotam programas sistemáticos de rastreamento, a taxa de sobrevida em cinco anos ultrapassa 65%”, observa Scaff. “No Brasil, os índices são bem inferiores: 48,3% para câncer de cólon e 42,4% para câncer de reto.”
Rastreio sistemático é apontado como solução
Especialistas defendem que homens e mulheres a partir dos 50 anos realizem exames regulares de rastreamento, sendo que indivíduos com histórico familiar ou condições de risco devem iniciar esse acompanhamento ainda mais cedo, conforme orientação médica.
“Para mudar esse cenário, é urgente a implementação de um programa nacional de rastreamento organizado”, conclui Scaff. “Diferentemente do que ocorre com o câncer de mama ou de colo do útero, ainda não há no Brasil um sistema que convoque de forma sistemática a população-alvo para exames intestinais. A responsabilidade é coletiva.”