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domingo, outubro 5, 2025

Investimentos imobiliários em tempos de Selic elevada: entre a resiliência dos FIIs e a atratividade da renda fixa

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Apesar da força dos títulos públicos, o mercado imobiliário preserva seu espaço em carteiras diversificadas — sobretudo com foco no longo prazo

Com a Selic em níveis elevados, os títulos do Tesouro Direto voltaram a figurar entre as aplicações mais rentáveis e seguras do mercado. Há papéis que remuneram IPCA + 7% ao ano até 2035 — uma taxa real significativa. Ainda assim, o investidor com horizonte de longo prazo não deve desconsiderar o potencial estratégico do setor imobiliário na composição de sua carteira.

Além da diversificação — princípio basilar de uma alocação robusta —, os ativos imobiliários oferecem dinâmicas distintas de geração de valor, especialmente quando mantidos por prazos mais dilatados. Segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews, o ideal é permanecer posicionado por, no mínimo, cinco anos — sendo recomendável um horizonte de dez anos ou mais.

Por que considerar o setor imobiliário com juros altos?

Em um cenário de renda fixa generosa, a tentação de abandonar os investimentos mais voláteis é compreensível. No entanto, há espaço para complementaridade: analistas sugerem que até 30% do capital destinado a investimentos pode ser alocado em produtos ligados ao mercado imobiliário — desde que não haja expectativa de resgate no curto prazo.

O desafio, portanto, está em escolher o instrumento mais aderente ao seu perfil. Abaixo, um panorama dos principais veículos de acesso ao setor:

PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE INVESTIMENTO IMOBILIARIO

LCI (Letra de Crédito Imobiliário)

  • Emitida por bancos
  • Isenção de IR para pessoas físicas
  • Garantia do FGC até R$ 250 mil

LIG (Letra Imobiliária Garantida)

  • Benefícios semelhantes à LCI
  • Adicional de dupla garantia: da instituição emissora e de uma carteira separada de ativos

CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários)

  • Emitido por securitizadoras
  • Maior risco, porém maior retorno
  • Isento de IR, sem cobertura do FGC

FII (Fundo de Investimento Imobiliário)

  • Negociado em bolsa
  • Investe em imóveis físicos ou títulos do setor
  • Distribuição mensal de dividendos isentos de IR
  • Exposto à volatilidade

Imóvel físico para locação

  • Geração de renda recorrente com reajuste por IPCA ou IGP-M
  • Elevado capital inicial e necessidade de gestão ativa

Fundos imobiliários: como se comportam em ciclos de juros altos?

Os FIIs seguem sendo um ponto de entrada acessível e versátil. Com cotas a partir de R$ 100 e isenção de IR sobre dividendos, atraem diferentes perfis. O investidor, contudo, deve compreender as categorias e a dinâmica de remuneração de cada tipo de fundo.

O mercado conta com mais de 400 FIIs listados na B3, agrupados em três grandes segmentos:

  • Fundos de papel — investem em CRIs, LCIs e LIGs
  • Fundos de tijolo — detêm imóveis físicos para locação
  • Fundos de fundos (FoFs) — aplicam em cotas de outros FIIs

No atual contexto, os fundos de papel tendem a apresentar desempenho superior, pois estão expostos a títulos atrelados ao IPCA ou CDI com spreads adicionais. Já os fundos de tijolo, mais sensíveis ao ciclo econômico, enfrentam desafios: inadimplência, renegociações e vacância podem pressionar seus rendimentos.

Gestão, carteira e histórico: os pilares da escolha

Independentemente da classe, o investidor deve observar atentamente:

  • A composição da carteira
  • O perfil dos locatários ou emissores
  • O histórico de gestão em diferentes ciclos econômicos

Segundo o levantamento do Clube FII, o Ifix — índice que mede o desempenho dos principais FIIs — acumulou 133% nos últimos dez anos, contra 141% do Ibovespa e 121% do CDI (já descontado o IR). Os fundos de papel lideraram, com retorno de 165% no período.

Em janelas menores, a fotografia é distinta. Nos últimos cinco anos, o Ifix recuou 3%, impactado pela pandemia e pela desaceleração da economia física. No mesmo intervalo, os fundos de papel avançaram 34%, enquanto as lajes corporativas retraíram 29%.

O fator psicológico: como lidar com a volatilidade

Apesar da estabilidade dos rendimentos mensais, as cotas dos FIIs oscilam diariamente na bolsa. Essa volatilidade — muitas vezes descolada dos fundamentos — pode desconfortar investidores menos acostumados à renda variável.

O caso do HGLG11, fundo voltado a galpões logísticos, é ilustrativo: com dividendos estáveis em 12 meses, a cota recuou mais de 8%, mesmo com um dividend yield de 8,81%. Frente à possibilidade de obter CDI+ em outros ativos, o custo de oportunidade torna-se relevante.

“É fundamental que o investidor entenda o momento e não abandone o produto. Existem fundos com portfólios de alta qualidade sendo negociados com desconto”, aponta Danilo Barbosa, sócio do Clube FII.

Renda fixa isenta: o apelo das LCIs, LIGs e CRIs

Para perfis mais conservadores, os papéis de crédito imobiliário representam alternativas interessantes. Sua principal vantagem reside na isenção de imposto de renda — um diferencial competitivo frente a outros ativos de renda fixa.

Entretanto, é essencial comparar rentabilidades líquidas. Ângelo Belitardo Neto, da Hike Capital, recomenda uma conta simples:

Remuneração líquida = taxa da LCI ÷ (1 – alíquota de IR)

Exemplo: uma LCI com rendimento de 12,5% ao ano, diante de um IR de 22,5%, equivale a 16,2% bruto. Essa é a taxa real a ser comparada com CDBs, Tesouro Direto e outros títulos tributáveis.

Imóvel físico: para quem tem capital e tempo de gestão

A compra direta de imóveis pode ser interessante para quem já possui patrimônio consolidado e liquidez disponível. Segundo Felipe Laragnoit Leite, da Primaz, o ideal é um sinal de pelo menos 40% do valor do bem. Isso reduz o impacto do custo de oportunidade em relação ao CDI.

O retorno esperado gira em torno de 0,5% do valor do imóvel ao mês. No entanto, o investidor deve considerar:

  • Comissão imobiliária
  • Manutenção do bem
  • Tributação sobre aluguéis superiores a R$ 2.112 mensais

Vitor Bidetti, da Integral BREI, sugere que essa modalidade seja considerada apenas por investidores com carteira já diversificada e patrimônio superior a R$ 1 milhão. “Trata-se de uma alocação conservadora, adequada para estratégias patrimoniais de longo prazo”, afirma.

Em resumo

Mesmo diante de uma Selic elevada, o setor imobiliário segue relevante para investidores que buscam diversificação, geração de renda e resiliência em horizontes prolongados. Conhecer o funcionamento de cada instrumento — dos FIIs aos papéis de crédito, passando pelo imóvel físico — é fundamental para uma alocação consciente e eficiente.

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