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domingo, outubro 5, 2025

Envelhecimento populacional redefine a economia global e reconfigura o mapa de oportunidades

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A longevidade humana atingiu patamares inéditos. Nas últimas sete décadas, a expectativa de vida aumentou de forma consistente em praticamente todas as nações — incluindo o Brasil, onde passou de 68,4 anos em 1990 para 76,4 anos, segundo o IBGE. Esse avanço demográfico não apenas reformula políticas públicas, como também redefine prioridades econômicas e reorienta estratégias de investimento.

A combinação entre menor taxa de natalidade e maior longevidade está transformando a composição etária das sociedades. No Brasil, esse movimento já é evidente: a proporção de crianças com até 14 anos caiu de 27,4% para 19,8% em duas décadas, enquanto o número de pessoas com 65 anos ou mais saltou de 5,9% para 10,9%.

Até 2040, um em cada quatro brasileiros terá mais de 60 anos — um cenário com profundas implicações para o planejamento econômico. Os custos com saúde e previdência aumentam, a oferta de mão de obra jovem diminui, e o foco fiscal se desloca da educação básica para áreas sensíveis à mudança demográfica.

Segundo o Balanço do Setor Público Nacional (2025), os gastos com previdência social chegaram a 12% do PIB em 2024 — uma proporção que tende a crescer.

Teses de investimento em transformação

O envelhecimento populacional, embora represente um desafio fiscal, também abre um leque de oportunidades de investimento — sobretudo nos setores de saúde, seguros e gestão patrimonial.

Na B3, companhias como Hapvida (HAPV3), Dasa (DASA3), Fleury (FLRY3) e Rede D’Or (RDOR3) já se beneficiam do aumento da demanda por serviços médicos. No setor farmacêutico, a Hypera (HYPE3) se destaca entre os principais players.

Outro segmento promissor é o de previdência complementar e fundos de pensão, em resposta à percepção de insuficiência dos sistemas públicos. Produtos financeiros de longo prazo ganham relevância nesse contexto.

No entanto, como destaca Alexandra Ralli, analista do banco suíço Lombard Odier, nem todos os setores reagem da mesma forma. O consumo tradicional tende a encolher com o envelhecimento populacional, salvo nas categorias ligadas à saúde e bem-estar.

Os setores estratégicos para o investidor atento

Segundo o Lombard Odier, os segmentos mais promissores na esteira da longevidade são:

  • Farmacêuticas: foco em doenças crônicas e soluções acessíveis.
  • Dispositivos médicos: destaque para inovações em cardiologia, diabetes e diagnóstico por imagem.
  • Saúde e bem-estar: desde suplementos alimentares até aparelhos auditivos.
  • Seguros de vida e saúde: aumento da demanda exige revisão de modelos atuariais frente à inflação médica e doenças como Alzheimer.
  • Gestão de fortunas: o mercado de pension risk transfer deve movimentar mais de US$ 100 bilhões ao ano nos EUA nos próximos cinco anos.

A economia prateada e seu impacto global

A chamada silver economy, que abrange o consumo voltado ao público com mais de 60 anos, já movimenta mais de US$ 17 trilhões no mundo. Segundo Celso Damadi, CFO da Porto, envelhecer com autonomia e qualidade de vida redefine padrões de consumo e exige soluções financeiras robustas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, um aposentado de 65 anos deve gastar em média US$ 172 mil com saúde ao longo da vida, de acordo com a Fidelity Investments. Ainda assim, a expectativa de vida no país está em 78,4 anos — cerca de quatro anos abaixo de países como Áustria e Suécia.

A explicação? Taxas elevadas de mortalidade por doenças crônicas e uma prevalência de obesidade de 42,9% entre adultos.

O contraponto chinês

A China pode em breve ultrapassar os EUA em expectativa de vida. Com políticas como a “Iniciativa China Saudável 2019–2030”, o país vem ampliando o acesso à saúde, promovendo a prevenção e desregulando preços de medicamentos.

Apesar dos desafios associados à urbanização acelerada, os resultados começam a se consolidar.

A nova política tarifária dos EUA e seu impacto nos idosos

Nos EUA, mudanças nas regras de importação de medicamentos e suplementos encerram isenções vigentes desde 1994. A medida visa reduzir a dependência de insumos da China e da Índia, mas impõe ônus ao consumidor — especialmente os idosos com renda fixa, que concentram seus gastos em saúde.

Hoje, mais de 78% das vitaminas importadas pelos EUA vêm da China. Apesar de algumas exceções tarifárias, o impacto no custo final deve ser significativo.

Conclusão

O envelhecimento populacional é uma força econômica de longo prazo, com efeitos sistêmicos. Ele transforma prioridades fiscais, desafia modelos previdenciários e redefine comportamentos de consumo. Para o investidor atento, representa não apenas risco, mas também uma oportunidade de reposicionar portfólios diante de um novo ciclo demográfico.

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